1 de abril de 2011

Universitários levam os estudos a sério?

Pesquisa realizada na Unicamp avalia os fatores que influenciam o desempenho dos estudantes
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Priscilla Borges
Da equipe do Correio
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Estudar em uma universidade pública é a meta da maioria dos jovens brasileiros, mas a realidade de uma minoria. Basta observar a quantidade de candidatos que disputam cada banco das faculdades. Só na Universidade de Brasília, por exemplo, todos os semestres mais de 20 mil candidatos concorrem a cerca de duas mil vagas. E grande parte dos aprovados passou pelas melhores escolas particulares. No entanto, resta a dúvida: será que todos os alunos dão valor a essa oportunidade e aproveitam de verdade os estudos?
 
É o que tenta responder uma pesquisa desenvolvida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para a tese de doutorado do educador Eliel Unglaub, professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo. Com a aplicação de um questionário de 55 perguntas aos 202 alunos dos cursos de Engenharia de Alimentos, Química, Pedagogia e Ciências Econômicas, o educador pôde avaliar os fatores que influenciam a dedicação dos alunos da graduação aos estudos. 

Esse tipo de análise é comum em países desenvolvidos, como os Estados Unidos. As informações têm valor estratégico. São ferramentas úteis no planejamento das atividades acadêmicas. ‘‘Ajudam a definir ações para melhorar a ocupação dos espaços físicos, por exemplo, aumentar a sincronia entre os cursos e as necessidades e interesses da comunidade estudantil’’, diz o professor.

Os resultados O estudo aponta características interessantes sobre o desempenho dos alunos. As mulheres, por exemplo, se empenham mais que os homens, de acordo com os dados. Para o educador Eliel Unglaub, a dedicação das meninas começa na infância, quando elas já mostram mais interesse e capricho na realização de tarefas. Suzane Dürer, 21 anos, concorda com a tese. Ela se baseia na própria turma do 1º semestre do curso de Agronomia da UnB, onde as mulheres são minoria. ‘‘Sempre vejo as meninas estudando mais. No nosso curso, elas estão mais preocupadas com as provas do que os homens’’, conta.

As colegas Dina Márcia Menezes Ferraz, 19 anos, e Sandra Karla Silva de Castro, 20 anos, lembram que essa diferença é também cultural. ‘‘A mulher parece ser mais dedicada ao que faz. Mas, além disso, existe um pouco de discriminação especialmente na nossa profissão’’, analisa. ‘‘Nós temos que nos dedicar mais aos estudos para provarmos que possuímos a mesma capacidade que os homens. E muitas mulheres também têm dupla jornada, trabalham, têm que cuidar dos filhos. Elas acabam dedicando o tempo livre todo aos livros’’, diz.

Murilo Timo Neto, 18 anos, até acredita que as mulheres sejam, no geral, mais aplicadas. Mas garante que se esforça tanto quanto elas. Leva tão a sério a graduação que passa suas madrugadas em cima dos livros e cadernos, fazendo cálculos e mais cálculos. Ele só tem aulas à noite. Quando chega em casa, retoma os estudos e só pára perto de 5h. Dorme até meio-dia e à tarde já está na Biblioteca da UnB para continuar a maratona. De acordo com a pesquisa, a postura do jovem é típica de quem está começando a vida acadêmica. Unglaub constatou que os universitários do primeiro ano dedicam-se mais que os do segundo e terceiro.

Benetti Mendes, 22 anos, é prova viva disso. Ele está no 8º semestre do curso de Artes Cênicas da UnB. Até o 4º semestre, o jovem ator passava os dias na biblioteca, lendo todo o conteúdo sugerido pelos professores. ‘‘Depois me senti desestimulado, os assuntos ficaram repetitivos e me concentrei mais no trabalho’’, admite.

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Quem é mais dedicado
as mulheres
os casados
os mais velhos
os iniciantes
os trabalhadores
estudantes de baixa renda
alunos de um só período
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Pesquisa feita com 202 alunos de quatro cursos da Unicamp, considerando dados como sexo, estado civil, idade, trabalho, turno e renda familiar, além de crenças religiosas, hábitos alimentares e atividades físicas. As informações foram cruzadas em um software especializado para esse tipo de pesquisa qualitativa, desenvolvido pelo Instituto de Diligência de Michigan, nos Estados Unidos. 

Matéria publicada em Brasília, terça-feira, 08 de julho de 2003

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